quinta-feira, maio 06, 2010

 NINI 
[Descobrindo as diferenças]



O mundo enfeita-se de cores e formas definidas pela natureza.
Em regra geral, os seres que nele habitam devem conformar-se com suas condições naturais.
Tudo se faz em harmonia, mas alguns deslizes são acontecidos, as chamadas mutações.
A partir destas afirmações, vamos contar a história de Nini, uma joaninha muito triste, mas que não expunha a ninguém o motivo de sua tristeza.
Havia um lindo jardim, tão lindo quanto os pintados nas telas de Monet. Muitas e muitas flores, de variadas cores, centenas de aromas.
Era tudo tão colorido que o olfato e a visão mal tinham tempo de associarem-se, para informar ao cérebro tanta beleza.
Mas nem a formosura do local, trazia encantamento para Nini.
Passava seus dias sob a folha de Monstera que era sua morada. Chorava tão baixinho, que os demais animais que por ali passavam não percebiam seu pranto.
Por que se sentia assim tão tristinha a Nini? Vivia no meio da natureza mais bela, mas não conseguia vê-la, pois estava sempre a chorar. Sua infelicidade era muito grande. Ela mesma era tão bonitinha, redondinha, coloridinha, por que se escondia?

Um dia chegou à folha de Monstera um joaninho. Viu-a assim tão meiga, mas abatida, infeliz. Quando Nini o olhou, seu coraçãozinho bateu mais forte. Seu pensamento foi rápido: "E agora o que vou fazer? Por que ele veio logo pra cá? O que será de mim? E se ele quiser falar comigo, o que vou dizer-lhe? E se ele descobrir o meu segredo?"

Será que ele não me achou diferente?Nasci assim, deste jeito... Não sou como as outras joaninhas, tão lindas com suas asinhas vermelhas, bolinhas pretas...
Esse era o segredo de Nini, a sua tristeza devida sua diferença. Ela mesma criara esse preconceito, ela mesma não aceitava sua diferença, só por causa da ausência das bolinhas pretas enfeitando as asas. O restante era tudo normal, mas por que ela não tinha aquelas bolinhas preta nas asas como as outras? Ela não entendia, achava que era mais parecida com uma Maria pretinha do que com uma joaninha. Quando o joaninho se aproximou dela na folha de Monstera, ela estava aflita. Primeiro pensou que ele viera para zombar de sua aparência, como faziam as outras joaninhas que moravam por ali. Depois passou por sua cabecinha que ele estaria ali por pura curiosidade. Mas nem ela saberia explicar-lhe a ausência das ditas bolinhas preta. Já havia perguntado à sua mãe, e esta lhe respondera apenas que foi assim que o criador quis. Isso não era resposta! Seus irmãozinhos todos tinham bolinhas. Por que ela não! Por que o criador não fez pelo menos outro irmão igual a ela para lhe fazer companhia? Enquanto divagava o joaninho se apresentou...

_ Olá, linda joaninha!Como te chamas?_Nini não pode acreditar, ele achara-a linda...
_ Meu nome é Nini!E o teu?
_ Sou Sedentino!
_Sedentino?Que nome exótico!
_Eu me chamo assim, porque nasci sem minhas asinhas internas. Com esta mutação, eu não posso voar... Então fiquei sendo Sedentino... De sedentário...
Nini percebeu que o problema daquele joaninho era bem pior que o seu. Afinal, ela nascera sem as bolinhas pretas características de sua espécie. Que importância vital tinha isto em sua vida?... Bem, mais complicada era a situação de Sedentino... Uma joaninha que não pode voar...
Deu seu melhor sorriso a ele e convidou-o a conhecer sua casinha...


Moral: Há sempre um alguém para outro alguém, por mais diferenças que existam entre eles.

Denise Severgnini*
[*Bióloga e Botânica, licenciada em Ciências pela UFRGS, professora do Ensino Fundamental, atuando nas disciplinas de Matemática, Ciências, Artes, Inglês e Religião, escritora, poetisa e pintora.Gaúcha,51 anos,casada e livre pensadora.]

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