quinta-feira, maio 20, 2010

O Pescador de Estrelas


[Para Bartolomeu Campos de Queiróz]

Era assim todos os dias.

Bartolomeu acordava de manhã bem cedinho e dava de comer às rolinhas.

Gostava de vê-las bem gordinhas, os papinhos cheios de miolo de pão, de farelo de milho,de restinho de biscoito de polvilho feito pela avó.

No meio do dia, Bartolomeu se rendia as leituras da sua vida:

Á escola, à amizade dos amigos, às risadas das travessuras, às suavidades da natureza,às alegrias escondidas nas brincadeiras de meninos, que só são felizes quanto mais sujos e empoeirados estão.

Estes eram outros mundos no meio da jornada.

No final da tarde, o olho comprido se estendia até alcançar os passos cansados do pai, que chegava com os bolsos carregados de gomos de cana.

Bem maduros e tão doces quanto o mel...

Bartolomeu media as horas pelo azul do céu.

Espiava pelo corredor, e quando sua mãe trazia as travessas com a comida miúda daquele dia sabia que a noite se aproximava.

E enquanto todos se preparavam para dormir, Bartolomeu ao contrário, arregalava os olhos, andava inquieto, contando os minutos para ouvir os primeiros roncos do pai.

Era assim todas as noites.

Enquanto todos descansavam das labutas do dia, e sonhavam dias tranquilos e fartos, Bartolomeu saía de fininho, fechando a porta com cuidado para não perturbar os sonhos e nem despertar os pesadelos.

Ele então tomava fôlego e corria para o rio.

O mesmo rio que ele nadava durante o dia.

O mesmo rio que ele pescava peixes.

Este era um outro segredo ensegredado.



Nas noites de lua de porcelana, Bartolomeu içava o barco,

e lá no meio do rio quando tudo serenava,ele pegava o seu caderninho

e escrevia pensamentos, inventava histórias, fantasiava mundos...

Nas noites de céu muito estrelado, quando a lua refletia nas águas igual espelho,

Bartolomeu içava a vara e dava de pescar estrelas.

Estes eram outros dias.

Mas mesmo depois de crescido, Bartolomeu não tomou jeito.

Anda por aí inventando mundos, criando histórias, fantasiando pensamentos.

Eu mesma ouvi dizer que numa noites dessas, de noite clara de porcelana, Bartolomeu foi visto feliz e cheio de sossego com uma cesta carregadinha de estrelas saltitantes.

Fátima Reis*

[Fátima Reis é pedagoga, poeta, escritora, contadora de histórias e trabalha com Educação Etnoambiental na Secretaria de Educação de Japeri-RJ .
Em 2000, inicia sua carreira com o lançamento do texto Mariazinha Zinha zinha na Antologia Grandes Escritores do Rio de Janeiro. Publica em 2004, o Livro de poesias "Na Rota" e em 2005 "Outras Poesias". Ainda em 2005, conquista o 2º lugar no I Concurso Mercosul de Contos para Crianças na Argentina em abril de 2005 com o livro "O menino que queria chorar estrelas.’’Em 2008, publica seu primeiro livro infatil online " http://ameninaqueoerdeuojuizo.blogspot.com/ .Em 2009 publica a historia infantil “ O Amor de Pigmaleão” na antologia internacional Curumim 4 que contou com a participação de autores do Brasil, Cuba, Argentina e Uruguay.Em 2010 lança o infantil “A História de Chico Mendes par Crianças” pela Prumo Editora.-Publica seu trabalho infantil no site: http://mariazinhazinhazinha.blogspot.com/]

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